Feiras em Portugal: uma tradição secular

Com cerca de 900 anos de existência, é em pleno Alto Minho que se realiza a feira mais antiga de Portugal, cuja existência vem mencionada na carta de foral outorgada a Ponte de Lima em 1125. Quinzenalmente, às segundas-feiras, a margem esquerda do Rio Lima e o Passeio 25 de Abril enchem-se de tendas, vendedores e compradores que geram grande movimento naquela que é uma das vilas mais antigas de Portugal. Tradicionalmente, havia gado, produção agrícola, bens de consumo e manufaturas como cerâmica, tanoaria, cestaria, ferraria ou tecelagem. Com o passar dos anos, os produtos à venda foram-se modernizando e expandindo nesta feira que se revela uma força dinamizadora do comércio local.

Não estranhe se o tratarem por “amor” quando se aproximar de alguma banca. Algumas vendedoras gostam de acarinhar os seus clientes de forma peculiar neste certame que ocorrerá desde o século XIII, embora os primeiros documentos que a assinalam, sejam de 1412, altura em que o Rei D. João concedeu uma feira de ano, com a duração de 15 dias, a realizar no Campo da República, onde ainda se realiza o evento. Atualmente, tem periodicidade semanal, sempre à quinta-feira, e é uma das Feiras em Portugal que arrasta mais seguidores. O artesanato é uma das suas áreas fortes, com o popular Galo de Barcelos em lugar de destaque, secundado por outras peças de olaria, cestaria, ferro e madeira. Como não podia deixar de ser, também não pode faltar a qualidade dos produtos agrícolas locais.

Considerada uma das maiores mostras económicas da Região Centro, realiza-se desde 1434, quando o Rei D. Duarte concedeu o privilégio a Aveiro de fazer uma feira anual e que, curiosamente, decorria na primeira semana de maio. Hoje em dia, realiza-se no Parque de Feiras e Exposições da cidade e começa na última semana de março, prolonga-se durante um mês e congrega a vertente comercial e de exposição de produtos com a diversão e espetáculos musicais. O setor de exposição reúne empresas de diferentes áreas como a automóvel, mobiliário, eventos, construção civil ou imobiliário. Já a vertente comercial inclui expositores de restauração, doçaria ou artesanato. Outro ponto forte é o seu parque de diversões, apresentado como um dos maiores do país, com cerca de 50 divertimentos.

É também na região Centro que se realiza outra dasFeiras em Portugal com maior tradição. Foi o Rei D. João I que concedeu carta de feira franca a Viseu em 1392 e desde então que o evento se tem realizado e hoje assume grande importância na dinâmica económica da cidade e da região em que está inserida. Há quem apelide a Feira de São Mateus de guardiã das feiras populares de Portugal. Diz-se também que “feirar” é algo intrínseco às muitas famílias e amigos que anualmente se reencontram no verão em Viseu, por ocasião do certame que ultimamente ocorre durante cerca de mês e meio. Para além da forte vertente comercial, a festa está garantida com muita gastronomia, diversão e concertos de artistas nacionais e internacionais.

Figura no lote de feiras francas mais antigas de Portugal e é um dos eventos que gera maior movimento na cidade de Trancoso, situada no distrito da Guarda, durante parte do mês de agosto. Foi em 1273 que o Rei D. Afonso III atribuiu a carta de feira à então vila, com periodicidade anual e duração de 15 dias. Realizada no moderno pavilhão multiusos e área envolvente, a Feira de São Bartolomeu atrai milhares de visitantes e é uma excelente montra para divulgar e promover o que de melhor se faz naquela região do interior de Portugal. Atividades económicas, artesanato, maquinaria agrícola, tasquinhas e diversões são alguns dos setores representados neste certame que também aposta forte em espetáculos com nomes conhecidos da música nacional.

Já no distrito de Castelo Branco, a Feira de São Tiago é outro evento secular que atrai muita gente à zona do Complexo Desportivo da Covilhã, onde atualmente o evento é organizado na segunda metade do mês de julho. Com a duração de 20 dias, foi em 1411 que o Rei D. João I outorgou a carta que concedia à Covilhã a realização de uma feira franqueada anual. De resto, há muito que a Feira de São Tiago é vista como um ponto de encontro de excelência de amigos e familiares da “cidade-neve”. De início, os lanifícios e os queijos da região da Serra da Estrela eram dos produtos mais transacionados. Com o passar dos anos, a Feira foi-se modernizando e alargando o naipe de atividades económicas representadas, para além de também contemplar espetáculos musicais diários, diversões, restauração e bares.

É, seguramente, uma das mais conhecidas e emblemáticas Feiras em Portugal e, ano após ano, continua a fazer com que muitos compradores, negociantes de antiguidades, colecionadores, curiosos e turistas rumem bem cedo ao Campo de Santa Clara, emLisboa, nas manhãs de sábado e de terça-feira. O objetivo é encontrar, sobretudo, velharias em bom estado, objetos em segunda mão, artesanato e itens de colecionismo. Estas são as áreas representadas nesta feira de grande tradição que terá tido início em 1272 e passado por vários pontos da capital de Portugal até se estabelecer na atual localização. Principalmente aos sábados, a Ladra assume-se quase como uma feira internacional, uma vez que faz parte do roteiro turístico de Lisboa. Quem sabe se não encontrará aqui algum “tesouro” ou um presente original?

A freguesia de Carnide, também em Lisboa, acolhe outra feira centenária que se realiza há mais de 500 anos, desde meados do século XV. A Feira da Luz decorre no Jardim da Luz e áreas adjacentes à Igreja com o mesmo nome, durante perto de um mês, entre a última semana de agosto e o último domingo de setembro. Configura um certame fértil em história e tradição, repleto de diferentes cores, cheiros e sabores, com oferta comercial para muitos gostos. Aqui podem encontrar-se artigos tão diferentes como produtos alimentares, louças, plásticos, peças em verga, roupa, calçado, cutelaria, atoalhados, móveis, ferramentas e muito artesanato. O que também atrai muita gente é a vasta programação cultural com concertos de entrada gratuita e os petiscos da gastronomia tradicional.

A primeira edição deste certame, que é um dos mais antigos e mais importantes realizados na zona sul, terá tido lugar em 1569 e desde essa altura que gera grande movimento em Évora, mais concretamente no icónico Rossio de São Brás, durante 10 dias, por altura do São João. É quase obrigação que os eborenses lá passem em todas as edições, num hábito que começa nos primeiros anos de vida das crianças daquela região. Também é frequente ver turistas neste certame onde o artesanato, a comida, as atividades económicas e o setor da agropecuária do Alentejo estão em destaque. Habituais são igualmente as tasquinhas de comes e bebes,  muita diversão e espetáculos musicais. Reza a história que se realizam feiras e mercados no Rossio de São Brás desde 1275, mas com outra designação.

É no Algarve que encontramos outra das Feiras em Portugal com maior tradição e história. Foi o Rei D. João II que concedeu carta de feira a Silves, em 1491, e desde aí que, todos os anos por altura do feriado de Todos os Santos, a cidade algarvia é visitada por muita gente ávida de comprar de tudo um pouco. Encontra-se roupa, calçado ou marroquinaria, mas também brinquedos, artesanato e artigos de madeira, latão ou cestaria. Atualmente, realiza-se no Sítio do Encalhe, localizado na zona norte do Castelo, mas já passou por diversos locais. O que não se altera é esta feira servir de ponto de encontro entre as gentes de Silves e de outros concelhos algarvios. Muito apreciadas são as já habituais bancas de farturas, castanhas e polvo. As diversões também são uma imagem de marca.