Confrarias de Portugal: cultura e tradição à mesa
Há cerca de uma centena de Confrarias de Portugal, criadas para perpetuar os usos, costumes e tradição da gastronomia e produtos nacionais.
Vestidos a rigor, são muitos os homens e mulheres que se juntam com o mesmo interesse e propósito, nas Confrarias de Portugal, para perpetuar a herança viva de um património singular de produtos, de pratos com tradição ou mesmo do conjunto da gastronomia representativa de uma região. As cerimónias de entronização incluem juramentos, rituais e, claro, uma paixão.
Todos sabemos que é à mesa que se celebram alguns dos momentos mais inesquecíveis da nossa vida: é aqui que se fazem grandes amizades e os melhores negócios. No aconchego de uma refeição, de um petisco ou de um copo de vinho, e sem sair da mesa, é também possível fazer uma verdadeira viagem cultural, por isso, o All About Portugal fez uma lista de oito Confrarias de Portugal, que celebram iguarias obrigatórias. Apure o palato e junte-se a nós e, quem sabe, ainda acaba a ser convidado para uma das Confrarias de Portugal e a fazer parte de uma curiosa cerimónia de entronização que o vai fazer sentir-se o protagonista do “O Nome da Rosa”, a obra de Umberto Eco.
Confraria da Broa de Avintes - Vila Nova de Gaia
É um pão escuro, pela mistura de farinhas de milho branco e centeio, ao qual se junta mel que lhe dá um sabor agridoce. E, para que a famosa Broa de Avintes fique cozida, são precisas muitas horas em forno de lenha. A esta iguaria estão associados segredos, superstições, história que remonta ao Rei D. Dinis e estórias que incluem belas e robustas vendedoras deste pão. Trajados de castanho, da cor da broa, os Confrades da Broa de Avintes, uma das mais antigas Confrarias de Portugal no ativo desde 1997, não esquecem a rica história que têm para contar e celebram, assim, esta maravilha em forma de torre sineira.
Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada - Mealhada
Com pele estaladiça e crocante e um interior que se desfaz na boca como manteiga, o Leitão da Bairrada foi considerado uma das 7 Maravilhas Gastronómicas de Portugal, razão suficiente para atrair a esta região imensos visitantes. Os requisitos para a confeção são muitos e começam logo com a qualidade do produto: o leitão deve ser nascido e criado na região da Bairrada (da raça Bísaro ou Malhado de Alcobaça), a mãe deve ter uma alimentação natural, não pode ultrapassar os 8 kg e deve ter menos de um mês e meio. Os maiores defensores desta especialidade estão na Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada, juntos desde 1995, e que querem garantir a preservação da sua qualidade e as suas seculares caraterísticas e tradições.
Confraria Nacional do Espumante - Lamego
É impossível falar no Leitão da Bairrada sem pensar num borbulhante e fresco espumante a acompanhar o repasto. Lamego é o berço deste líquido precioso e foi buscar às castas originais de Champagne, em França, a sua matéria-prima, acabando por se afirmar como um produto de caráter nacional. O prestígio dos vinhos da região remonta ao século XVI e foi definitivamente consagrado com a produção dos espumantes Raposeira, empresa fundada há 120 anos. Em 2005 nasce a Confraria Nacional do Espumante, que pesquisa sobre as origens e história do espumante e elabora informação sobre os seus diversos tipos.
Confraria do Queijo S. Jorge - Açores
O seu método de produção está praticamente inalterado desde o século XV, aquando da descoberta da ilha. Reza a história que o seu fabrico foi incentivado pela comunidade flamenga, experientes produtores de bens alimentares como carne, leite e lacticínios. Passaram 500 anos e, hoje, o organismo de controlo e certificação é a Confraria do Queijo de São Jorge. Com um sabor forte, ligeiramente picante e inesquecível, este é um queijo curado, de pasta dura ou semidura, e cor amarelada. As suas caraterísticas únicas devem-se às condições climáticas da região, que originam pastagens de culturas variadas, e influenciam na qualidade do leite.
Confraria dos Ovos Moles de Aveiro - Aveiro
Trajando de amarelo, na Confraria dos Ovos Moles de Aveiro cada um dos seus confrades "jura levar os Ovos Moles de Aveiro ao mundo inteiro. Isto, se não os comer primeiro!”. O juramento dá-nos uma ideia do que nos espera: uma pequena delícia feita com gema de ovo e coberta com moldes de obreia (tipo hóstia) que faz jus ao mote “tamanho não é documento”. A fórmula e método de produção original nasceu nos conventos da zona de Aveiro, em séculos passados, onde as freiras utilizavam a clara de ovo para engomar os hábitos, enquanto as gemas, para serem aproveitadas, eram usadas para a doçaria conventual. Mas esta é apenas uma parte da versão da história, desta especialidade que se mantém na região há séculos.
Confraria do Azeite - Cova da Beira
É como estrela da dieta mediterrânea que o “ouro líquido” é celebrado pela Confraria do Azeite da Cova da Beira, desde 2004. Considerado um dos melhores a nível mundial, o azeite português tem, nesta Confraria de Portugal, um defensor e promotor do azeite da região como produto decisivo central para a economia e para o equilíbrio da saúde. A sua versatilidade vai para além da gastronomia, já que é usado para inúmeros fins: dos cosméticos aos fármacos. Ao azeite e à oliveira estão ligados rituais religiosos, simbolismos e muitas crenças de vários povos, e os registos mais antigos mostram a existência de oliveiras em Portugal no tempo dos Visigodos, entre os séculos VI e VIII d.C.
Confraria dos Enófilos do Alentejo - Évora
Portugal é conhecido pela grande quantidade de castas nativas – são mais de 250 –, que permite produzir uma grande diversidade de vinhos com personalidades muito distintas. Pelos vistos, a origem dos vinhos em Portugal remonta a cerca de 2000 a.C. e o Alentejo é uma das regiões vitivinícolas de grande tradição, de onde saem vinhos brancos aromáticos e frescos, assim como tintos intensos e encorpados. Foi com base neste sentimento da expressão cultural da vinha e do vinho que surgiu a Confraria dos Enófilos do Alentejo, em 1991 (outra das mais antigas Confrarias de Portugal), que celebra e protege o néctar dos deuses que saem das terras alentejanas.
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