Entre Espanha e a Serra da Estrela há uma Guarda a descobrir

É o ponto mais alto da cidade, a 1056 metros de altitude. Da Torre de Menagem, também conhecida como Castelo da Guarda, tem-se uma vista panorâmica e privilegiada sobre a cidade e os arredores. Dali, podemos imaginar o que terá sido a localidade, e os seus limites, há séculos. Além disso, e consoante o tempo o permita ou não, é possível admirar um horizonte quase infindável. Quando neva, esta perspetiva revela-se um postal de sonho. Haverá melhor forma de começar este roteiro?

Embora a Sé Catedral já não escape ao olhar, propomos um desvio até à Torre dos Ferreiros, numa rua estreita ali perto. A entrada faz-se pela altiva Porta dos Ferreiros, vendo-se de imediato um oratório e uma longa escadaria. Com a muralha a ter dado lugar a casas e o passado a ser modernizado pelos novos tempos, persiste ainda esta alta Torre como uma memória física de uma história contada por reis, cavaleiros e um conflito histórico com Castela. A vista do topo é também memorável.

Porventura o maior ex-líbris da Guarda, a Sé Catedral é um casamento perfeito entre os estilos góticos e manuelino. À sua construção são associadas muitas lendas e, além das gárgulas ostensivas, há também uma escultura "peculiar" virada para Espanha. Vale a pena entrar e admirar, sobretudo, o maravilhoso retábulo por detrás do altar principal. Aproveite também para passear na Praça Luís de Camões, ou Praça Velha, onde se encontra uma estátua do rei D. Sancho, que atribuiu o foral à cidade.

Junto à Porta d'El-Rei, outrora entrada nobre da Guarda, encontra-se a Antiga Judiaria, na zona onde se terá instalado, em tempos, o Bairro Judeu. A comunidade judaica tem a sua presença documentada desde o início do século XIII, mas vários indícios apontam para a existência do Bairro antes dessa data. Desta forma, é considerada uma das comunidades judaicas mais antigas do país. O Bairro prolongar-se-ia até ao adro da Igreja de São Vicente, ainda hoje um dos marcos cristãos da localidade.

O antigo Seminário Episcopal deu lugar, em 1940, a um Museu que reúne atualmente um acervo notável. Da arqueologia à escultura sacra, passando também pela etnografia regional e pela cerâmica, o espaço traça uma imagem do país e da região desde, pelo menos, a Idade do Bronze. Destaque para duas espadas dessa época, assim como para uma coleção de numismática romana e um granito policromado do século XIII. O edifício, construído no início do século XVII, também é de grande beleza.

Aproveite para fazer uma pausa a poucos passos do Museu, no Jardim José de Lemos. Este espaço verde foi requalificado em 2017, dispondo de cafés e também locais para simplesmente se sentar e admirar o caos citadino em volta. Ali, podem encontrar-se vários tipos de pessoas, de crianças a estudantes e idosos, muitas vezes em conversa ou a jogar às cartas. O principal destaque vai para o Monumento aos Mortos da Grande Guerra, no centro do jardim, da autoria de Júlio Vaz Júnior.

Muito próximo do Jardim José de Lemos, está o Teatro Municipal que, em 2005, veio dinamizar a vida cultural da cidade. Procurando desmistificar a ideia de que no centro do país nada acontece, o espaço aposta em espétaculos locais, nacionais e também internacionais. Composto por dois edifícios, a obra idealizada pelo arquiteto Carlos Veloso inclui, além dos auditórios, um café concerto. Veja a agenda do TMG e aproveite para aliar a cultura à visita: uma combinação certamente de luxo.

Afastamo-nos do centro para descobrir um dos monumentos mais significativos da Guarda. Hoje um espaço cristão, teve alterações significativas na sua estrutura no século XIII, mas acredita-se que a sua construção original seja anterior. Alguns indícios apontam para a edificação da Capela na altura da ocupação romana, que deixou várias marcas pela região. No entanto, este assunto revela-se um mistério ainda por desvendar. Nas proximidades, pode encontrar também uma estação arqueológica.

Nos arredores da estação de comboio e da VICEG, encontra-se o maior parque público da localidade. Dotado de diversas atrações para os mais pequenos, o Parque Urbano do Rio Diz tem estradas de terra e outros caminhos que convidam a passear por lá ou a dar uma volta de bicicleta. Se preferir trocar o exercício por um café, há espaços interiores e esplanadas onde poderá relaxar. Além disso, o Parque conta também com uma área que costuma acolher eventos, nomeadamente a Feira Ibérica de Turismo.

Além de oferecer uma panorâmica impressionante sobre a região, o Castro do Tintinolho, acessível por um caminho próximo ao Instituto Politécnico da Guarda, é uma verdadeira viagem ao passado. Erguido na Idade do Ferro e relacionado com a ocupação romana até ao período visigótico, tinha uma localização perfeita atendendo à proximidade de água e à fertilidade dos solos. Ainda são visíveis algumas partes das muralhas que, há vários séculos, limitavam a povoação. O resto, cabe à imaginação.

Caso se aventure de carro, não pode perder nas redondezas a Barragem do Caldeirão. A Natureza envolvente convida a um passeio à beira-rio, mas o local esconde também um segredo para os amantes do ar livre e da fotografia. No extremo da ponte, já junto à montanha, há um caminho entre as rochas, que termina num miradouro que proporciona uma vista invejável sobre as zonas verdes e aldeias das proximidades. No entanto, tenha cuidado, já que por vezes o caminho pedonal é um pouco íngreme.